Exigência de exame toxicológico para motoristas profissionais é questionável

Em entrevista, diretor da Abramet explica a ineficácia do procedimento

Mais uma vez, na pauta de discussão, está a exigência de exame toxicológico para motoristas profissionais. A lei obriga a realização dos testes de larga detecção para motoristas profissionais das categorias C, D e E. O exame identifica o uso de substâncias psicoativas no organismo do motorista mas não comprova se ele estava sob uso da droga naquele momento. 

Por conta disso, muitos profissionais do setor de transporte e saúde questionam sobre a eficácia do exame e as consequências para os motoristas. Para entender melhor sobre o assunto, a Abcam entrevistou o diretor de comunicação da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Dirceu Rodrigues Alves Júnior. 

Formado pela Escola de Medicina e Cirurgia da Universidade do Rio de Janeiro, especialista em Medicina de Tráfego aprovado pela Associação Médica Brasileira, Rodrigues explica quais os motivos o fazem ser contra a exigência do exame toxicológico.

1. O senhor poderia dizer quais tipos de drogas podem ser detectadas e como é realizado este exame?

A análise clínica poderá ser realizada pelo fio de cabelo ou pelas unhas para detectar diversos tipos de drogas e seus derivados, como a cocaína, maconha, morfina, heroína, ecstasy, ópio, codeína, anfetamina e metanfetamina (rebite).

2. Qual o período de tempo que o exame é capaz de detectar essas substâncias?

O exame é capaz de detectar substâncias usadas em um período de tempo de três meses. 

3. Então esse exame vai poder constatar a atual situação do motorista? 

Não, pois ele não nos traz qualquer informação sobre a atividade do motorista no momento em que está dirigindo. Ele pode ter ingerido álcool ou usado outro entorpecente no final de semana, há duas semanas ou há um mês atrás e o exame vai apontá-lo como usuário daquela substância, mesmo que hoje, ele não faça mais o uso. 

Por isso, a Abramet é contra esta obrigatoriedade, pois além de não ser possível comprovar a condição do motorista naquele exato momento, traz diversas consequências para o condutor do veículo. 

4. E quais seriam essas consequências?

Além do alto custo do exame, que varia em torno de R$ 270 e R$290, se for diagnosticado algum dos entorpecentes no seu laudo, ele terá que esperar três meses para poder refazer o exame. Isso gera prejuízos ao condutor, que ficará sem trabalhar, e consequentemente prejuízo para o Estado, que terá de pagar o auxílio-doença para o indivíduo.

5. E a opinião da Abramet chegou a ser ouvida pelo Governo?

Sim, nós enviamos para o Legislativo e para a presidenta Dilma Rousseff um relatório realizado por nós que explicava a incompatibilidade deste exame com os resultados que se desejava alcançar. Mas infelizmente, as autoridades não avaliaram nosso relatório como esperávamos. 

6. E qual seria sua sugestão para reduzir o número de acidentes de trânsito causados por motoristas sob efeito de substâncias psicoativas? 

Sinceramente, acredito que é preciso, antes de tudo, oferecer reais condições de tratamento para todos os usuários de drogas do país. De nada adianta detectá-los, se não há condições de tratá-los, de oferecer uma assistência ao indivíduo e sua família. É preciso orientar, oferecer condições de tratamento para só depois punir aqueles que continuarem a dirigir sob efeitos dessas substâncias.
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A Abcam reforça a importância da fiscalização do diário de bordo do caminhoneiro, pois nele é possível verificar se as paradas para descanso estão sendo respeitadas. Sabemos que existe muito caminhoneiro que não descansa, seja por imposição do empregador, seja por transportar uma carga perecível, ou pela necessidade de subsistência, que faz com que o transportador aceite trabalhar sem descanso para não perder a oportunidade de trabalho. 

É importante que todos os profissionais do setor se conscientizem da necessidade de cumprir sua jornada de trabalho e as paradas obrigatórias. O cansaço, o sono e a falta de cuidados com a saúde podem tirá-lo de vez das estradas. 

Pense nisso! 

 

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