Palavra do Presidente: A culpa é de quem?

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Inúmeras têm sido as matérias jornalísticas que atribuem exclusivamente à greve dos caminhoneiros a piora dos indicadores de inflação e atividade econômica no segundo semestre do ano. Mas essas avaliações precisam ser melhor qualificadas para que não pareça que estávamos numa fase vigorosa da nossa economia e que, de um dia para o outro, a paralisação dos caminhoneiros foi responsável por um revés que a jogou numa profunda desaceleração.

Antes de mais nada, é importante lembrar o porquê de se realizar uma greve. Algumas vezes, as greves se tornam uma manifestação política. Em outras, como forma de pressão para se obter condições dignas de trabalho e por melhores salários. Ainda existem aquelas que são utilizadas contra mudanças em direitos já assegurados e até para derrubar políticos. Ou seja, a greve, apesar de incomodar e atrapalhar muitos setores, se torna um mecanismo fundamental para a manutenção de direitos.

Diferentemente do que está sendo divulgado, a greve dos caminhoneiros teve uma curta duração e seus efeitos foram sentidos na inflação de junho, por conta do desabastecimento momentâneo versus a manutenção da demanda, mas tais efeitos são pontuais e de curtíssimo prazo, uma vez que, ainda durante o próprio mês de junho, o abastecimento foi retomado e os preços voltaram ao patamar anterior à greve.

Em relação à atividade econômica, vincular quedas de até 10% nos setores produtivos a uma greve de poucos dias é distorcer o contexto histórico de execução equivocada da macroeconomia e tapar os olhos para as más escolhas em termos de política fiscal do atual governo e também dos anteriores.

Enquanto muitos criticam os custos do programa de subsídio ao diesel, que é o principal insumo de uma categoria que trabalha há anos em regime de trabalho desumano e de imenso sacrifício pessoal, esquecem-se do impacto de R$ 68 bilhões em 5 anos da desoneração desordenada da folha de pagamentos, do aumento de R$67 bilhões dos servidores públicos federais apenas entre 2016 e 2018, do crescimento de quase 300% dos gastos com auxílio moradia para os juízes do país inteiro com ou sem moradia própria, entre outras medidas extremamente questionáveis diante de uma carga tributária que recai primordialmente sobre quem produz e transporta no Brasil são esquecidos.

Portanto, esse desconcerto geral no país não é culpa somente da greve dos caminhoneiros, e sim, da falta de gestão de nossos governantes que não encontram meios de economizar as despesas do Estado e optam por onerar ainda mais os contribuintes. Lembrando que, no Brasil, pagamos uma das cargas tributárias mais altas do mundo.

José da Fonseca Lopes - presidente da Abcam